O lançamento do novo romance de António Lobo Antunes: "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?"
Ontem tive o grande prazer de estar presente ao lançamento do mais recente livro de A. Lobo Antunes, Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?, e, fiquei, inicialmente, fiquei sentido por não acontecer o também aguardado momento de autógrafos. Após um vinho e ter adquirido um dos cartazes de divulgação do livro, expostos no belo salão do Teatro São Luiz, retornei para casa para ouvir a entrevista dadapelo autor e que seria transmitida ao vivo.
A entrevista resultou em frases que me levaram à paisagens descritas como páginas de um romance que atrai, entre seriedade e ternura. Frases que ficaram como um eco, por exemplo, ao ser questionado sobre o seu tempo e a sua disponibilidade para a escrita: O que é mais esgotante é o intervalo entre os livros. A expectativa quanto ao livro seguinte e se ele vira. Um ar de angústia, um silêncio, a despedida do livro que agora não é mais apenas seu. Ficou, também, a sua intensidade marcada ao fazer referência a uma passagem do romance de C. Dickens, Tempos difíceis (-“Tenho a impressão que é melhor ir para o quarto, mas não sei se me pertence”), numa relação ao ato de escrever, o não saber se, de fato, o livro pertence ao autor.
O episódio da gravata. Outro momento marcante da entrevista. A gravata e as suas metáforas, numa contextualização densa e marcante. A percepção sensível de um escritor que, numa sala de espera num hospital público (por conta de um tratamento), revistas sobre a mesa (e que ninguém lia), “cada pessoa fechada em sua bolha de solidão”, e ele a observar um “senhor já de muita idade”, um camponês, “sempre com o mesmo fato” manchado, mas que quando o chamavam para a sua possível consulta, ele avançava como um príncipe. Diante do escritor, a possibilidade de mais um caminho para um dos seus textos - pensei comigo mesmo -, além da sua sensibilidade em observar a grandiosidade presente na vida simples, bem simples de um camponês que era príncipe.
Sobre a mesa da entrevistadora, um livro: Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?
Encerro o meu comentário com um outro, feito por L. Antunes a respeito dos escritores. “É melhor lê-los, e não querer conhecê-los.” Isso eu realmente não sei. Fico com essa incógnita, pois, por exemplo, deve ser muito prazeroso as conversas que acontecem nos encontros às quintas-feiras com os seus amigos. Mesmo que não haja, ali, espaço para a literatura. Mas ali está o escritor, com a sua bagagem cheia de coisas, objetos e diálogos, material que podem pular para as páginas dos livros.
"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
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