Deixei na última gaveta da cômoda a recordação prometida para quando este dia chegasse.
Deixei ali
entre os papéis de sentimentos descritos como nódoas grudadas para sempre
e nódoas fragilizadas
sensíveis
que se apagam
com o tempo.
E sobre o travesseiro coberto pela fronha ainda alva de ontem
Deixei o meu abraço quase apertado
quase melancólico
quase uma parte de mim.
E deixei o meu abandono que não era ao lado do teu abandono que não era
E as marcas da minha saudade misturadas nas marcas da tua saudade deixei
Um pouco de mim dentro do teu quarto
Dentro do teu cheiro
E dentro das tuas recordações que remoem as horas do passado
e o presente que nunca cessa com as fotografias que se movem apenas na memória.
Deixei.
E trouxe comigo um pouco do que lhe pertence:
Nada mais.
Silenciosamente parti.
A chave em minhas mãos
Propositalmente perdida ao andar pelas margens do rio de
águas que segredam palavras de laços rompidos.
A imensa ponte atravessa o rio
e a sua sombra se move sobre as águas.
Tudo se faz sombra
E eu ali,
Dizendo mais uma vez:
Nunca mais!
Lisboa, 08 de Dezembro de 2009.
Parabéns pela postagem de hoje!
ResponderExcluir"Deixei.
E trouxe comigo um pouco do que lhe pertence:
Nada mais."
Você realmente tem o dom de me encantar com o que escreve.
Palavras penetrantes e acolhedoras dentro de um coraçao que nos faz flutuar.
ResponderExcluirkeila