domingo, 28 de novembro de 2010

E quando


E quando as horas, e quando os instantes, e quando, e quando nada, e quando tantas coisas espalhadas pelos cantos depois do silêncio, e quando as imprecisões, e quando a rouquidão das palavras impactadas do outro lado, e quando as emoções do instante inesperado e forte, e nada mais do que a intensidade do convívio passageiro, marcado pelo diálogo quase sem palavras e depois muito mais que os diálogos de palavras, espalhadas pelas salas e quartos de janelas e portas fechadas lacrando o imenso frio lá fora, e quando, e quando, e quando na pele empalidecida da cabeça aos pés, avermelhada a pele, e quando, e quando todas as surpresas espalhadas por todos os lados, todos, e quando tudo se faz efêmero, e quando exclamações se o momento se torna irresistível, a entrega, e quando e quando o horizonte amplo demais, depois tão pequeno o horizonte e outra vez imenso depois de tantas coisas recolhidas, e o ar turvo, as janelas embaçadas e o tempo já não era tão frio lá fora, lá fora depois o rio imenso e as águas límpidas outra vez.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lançamento de "Sôbolos rios que vão" de A. L. Antunes, em Tomar


Cidade onde ALA vivenciou mais uma das partes da sua memória, Tomar foi mesmo um espaço muito representativo para a realização de uma das etapas do lançamento de "Sôbolos rios que vão". Cidade revisitada e histórias rememoradas pelo escritor.

A apresentação da Professora Ana Paula Arnaut ampliou espaços, contribuindo para uma maior compreensão da obra do autor, considerada tão complexa por grande parte dos leitores, e mais íntima por outros. Questionamentos e reflexões estiveram presentes durante o lançamento. A inquietação sobre uma obra que pode parecer fragmentada, e são fragmentos sim, eles que se cruzam, desencontros de instantes, sensações de devaneios, e, entretanto, por fim, uma narrativa que se completa, fragmentos que se encontram, unem-se.

O lançamento de "Sôbolos rios que vão" em Tomar foi marcado, também, por um silêncio. Um silêncio atento às palavras da apresentadora, íntima da narrativa do autor, e que depois de ter penetrado no texto retornou de lá afirmando que "Sôbolos rios que vão" é, com efeito, um romance em que Lobo Antunes continua a reduzir a escrita ao osso. Metáfora que muito bem representa uma narrativa não apenas densa, mas intensa, profunda em seu estilo de palavras e imagens lapidadas, quando tempo e espaços são vasculhados, revisitados num fluxo que percorre o caminho da saudade e de um silêncio, enquanto a memória deixa de ser simplesmente fragmentos e se faz história revelada na arte de contar.

Em 13 de Novembro de 2010.

terça-feira, 16 de novembro de 2010


Quebraram o jarro
E aproveitaram para levar
Junto com os cacos
Todas as lembranças que causava
No tempo em que enfeitava a sala.

A mesa ficou vazia
Mas o jardim cheio de flores.