quarta-feira, 23 de março de 2011

As horas no relógio de ruído angustiante


Adormeceu diante do incontido desejo de que ao chegar à estação o trem já houvesse passado, e ninguém mais.

Ninguém mais.

Do trem, apenas o barulho do motor se distanciando e levando o tempo que já não podia ser, o tempo que nunca, nunca o tempo completo com todas as horas
cheias de plenas felicidades
aguardadas com as esperanças do que, talvez, nunca aconteceria, a não ser em minutos marcados no relógio de ruído angustiante.

Ninguém mais na estação. Mas uma dor, pungente, uma dor que era muito maior se não fosse o bálsamo, desejo esperançoso de bálsamo e as horas que precisam de silêncio para que na alma tudo tão calmo, mesmo que nunca. Jamais por completo.

Nem mais o ruído inquietante do trem. Nem mesmo.

Era a vontade imensa de que o trem nem tivesse chegado ainda, muito menos partido, parado diante da mais sublime imagem,
cheia de algumas felicidades, aguardadas,
ainda.

terça-feira, 8 de março de 2011

ou apenas uma imagem


Na imagem refletida na água era um caminho longo demais e que se balançava em leves movimentos, o vento brando sobre o lago. Um longo caminho ao mesmo tempo deserto e um som vindo bem de longe enquanto nas árvores reluziam um dourado que brilhava tanto até confundir a nitidez das folhas que se movimentavam e a nitidez das folhas paradas por completo, formosas as folhas mesmo as mais recuadas como se fossem tão sem vigor. A imagem suscitava indagações, ela refletida no espelho sobre as águas diante dos olhos do homem, a veracidade de um quadro pintado e exposto na parede da memória, e nada era naquele instante, mas outro o instante que talvez nunca tenha existido, quando a realidade pode se confundir com a imagem, apenas uma imagem, apenas.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Num ímpeto


1. Uma fileira imensa de coisas para serem escritas e numa outra fileira coisas que não conseguem ser esparramadas sobre as páginas que nada conseguem além de palavras rabiscadas sem sentido algum, não, não sem sentido algum se tudo há um sentido, qualquer que seja, mesmo que esvaziado de nexo a depender de quem o interlocutor.
2. A música lá dentro ressoa uma melodia conhecida e toca a alma no fundo e a música seguinte é tocada aleatoriamente, independente do género, outro momento que toca a alma, a alma, vontade de passar para a música seguinte se a música toca demais a alma e pode virar dor ao invés de prazer, desligo.
3. Os papéis espalhados e guardados repetidas vezes todos os dias, Ricoeur, Bergson, Halbwachs, Nora, Bachelard, Platão, Aristóteles, Freud, Lacan, Torres, Antunes e etc e tal e tal e tal… Tudo às vezes se embaralhando, e a herança grega, e a fenomenologia de Husserl, e …………………………………………. Sair um pouco por ai e deixar os papéis escancarados e outras anotações já riscadas para não ser novamente atracão de reescritas, esta palavra melhor que aquela, esta frase melhor que aquela………………….. Sair um pouco por ai e depois tudo, outra vez, até que um dia, que seja em breve, a última frase depois das expectativas.
4. Comer alguma coisa, novamente, beber alguma coisa, novamente, a escrita sente fome, a minha escrita é às vezes faminta, gulosa, mesmo às vezes quando empanturrada, é uma fome sem espaço, apenas o prazer das palavras úmidas e, quando espremidas as palavras úmidas, o texto parece pular sobre o papel, saltitantes, às vezes, e outras vezes num esforço que cada um é que sabe do seu e do prazer cada um sabe do seu quando no peito bate uma coisa estranha ou tão íntima chamada de gozo.
5. É isso, sentei aqui e, como fuga para dar um tempinho de horas ou de fartos minutos na escrita, na outra, comecei a escrever tais impressões e, talvez, as deixe agora no blog. Entretanto, sem revisão alguma, não quero reler nada disso, deixe lá como está, originalmente.