quarta-feira, 2 de março de 2011

Num ímpeto


1. Uma fileira imensa de coisas para serem escritas e numa outra fileira coisas que não conseguem ser esparramadas sobre as páginas que nada conseguem além de palavras rabiscadas sem sentido algum, não, não sem sentido algum se tudo há um sentido, qualquer que seja, mesmo que esvaziado de nexo a depender de quem o interlocutor.
2. A música lá dentro ressoa uma melodia conhecida e toca a alma no fundo e a música seguinte é tocada aleatoriamente, independente do género, outro momento que toca a alma, a alma, vontade de passar para a música seguinte se a música toca demais a alma e pode virar dor ao invés de prazer, desligo.
3. Os papéis espalhados e guardados repetidas vezes todos os dias, Ricoeur, Bergson, Halbwachs, Nora, Bachelard, Platão, Aristóteles, Freud, Lacan, Torres, Antunes e etc e tal e tal e tal… Tudo às vezes se embaralhando, e a herança grega, e a fenomenologia de Husserl, e …………………………………………. Sair um pouco por ai e deixar os papéis escancarados e outras anotações já riscadas para não ser novamente atracão de reescritas, esta palavra melhor que aquela, esta frase melhor que aquela………………….. Sair um pouco por ai e depois tudo, outra vez, até que um dia, que seja em breve, a última frase depois das expectativas.
4. Comer alguma coisa, novamente, beber alguma coisa, novamente, a escrita sente fome, a minha escrita é às vezes faminta, gulosa, mesmo às vezes quando empanturrada, é uma fome sem espaço, apenas o prazer das palavras úmidas e, quando espremidas as palavras úmidas, o texto parece pular sobre o papel, saltitantes, às vezes, e outras vezes num esforço que cada um é que sabe do seu e do prazer cada um sabe do seu quando no peito bate uma coisa estranha ou tão íntima chamada de gozo.
5. É isso, sentei aqui e, como fuga para dar um tempinho de horas ou de fartos minutos na escrita, na outra, comecei a escrever tais impressões e, talvez, as deixe agora no blog. Entretanto, sem revisão alguma, não quero reler nada disso, deixe lá como está, originalmente.

7 comentários:

  1. Deixe mesmo! originalmente, e' assim que tem que ser tantas vezes pra demonstrar a gostosura das ideias e pensamentos livres.

    ResponderExcluir
  2. Adorei o texto, como sempre!!!

    Bjs,

    Cláudia.

    ResponderExcluir
  3. Vc me fez viajar novamente dentro das suas ideias. Vc continua fantástico.

    ResponderExcluir
  4. Embora não tenha feito comentário nas últimas postagens, aqui sempre estou por gostar demais do que aqui encontro. Hoje porém não resito apenas a uma leitura, e me meto a falar que gosto da velocidade da escrita e do pensamento, ambos que acontecem a partir de um conteúdo vasto, pois do contrário era tudo muito simples. É como acredito, o conhecimento é uma complexidade que de vez em quando precisa de um tempo sem exigências. Entendo assim, e o que há aqui escrito em NUM ÍMPETO colocou-me muito para pensar.

    ResponderExcluir
  5. É como se eu estivesse acompanhando tudo... É a angústia do ofício do escritor. A mesma queixa de Drummond, João Cabral, C. Lispector e outros tantos. Além da produção da alma, há que se dar conta de alimentá-la com tantos outros, que muitas vezes se misturam, interpenetram, fundem-se e confundem. O que fazer? Você encontrou uma boa solução: criar a partir daí um belo texto que, usando os recursos já tão familiares do seu estilo, consegue transmitir e envolver o leitor, identificando-o com tudo isso. Parabéns!
    Beijo

    ResponderExcluir
  6. Carissimos, obrigado pela leitura e pelos comentários que criam, sim, um maior movimento em minha escrita ou a sua busca...

    ResponderExcluir
  7. "A música lá dentro ressoando uma melodia conhecida e toca a alma no fundo"

    A.

    ResponderExcluir