sexta-feira, 22 de abril de 2011

Espelhos embaçados


Já estava lá dentro do pensamento
que num vulto repentino tornara-se ininterrupto.

O pensamento.

Não apenas o pensamento em imagens que pulavam uma a uma,
Saltitantes como bolas de algodão e outras vezes como de cristal,
as bolas saltitantes,
como bronze lapidado sobre a rocha firme, ainda que o vendaval
Ainda que apenas como o algodão,
ainda que
uma coisa e outra, um pensamento em vão.

E o que não era,
Multiplicava-se luminoso dentro dos espelhos ao seu redor,
Pouco a pouco os espelhos embaçados e as imagens se tornando outras.
Agora eram outras as imagens
e as coisas
lá dentro dele.
Tudo novamente como um vulto repentino, ininterrupto
Todas as imagens detrás dos espelhos embaçados.

E ele,
num vulto repentino
aproximou-se bem perto de todos os espelhos:
percorreu as suas mãos sobre eles, lentamente
a sua própria pele,
Ele perplexo,
enquanto as imagens emudeciam-se,
Uma a uma.

4 comentários:

  1. Lindo, sensível, me fez pensar, refletir e voltar a pensar: E ele,
    num vulto repentino
    aproximou-se bem perto de todos os espelhos:
    E percorreu as suas mãos sobre eles, lentamente
    como se fosse a sua própria pele
    E as imagens emudeciam,
    Uma a uma.

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  2. Aquele rosto que era a porta mística para tantas imagens, para tantas palavras, para tanto querer...aquela face oculta cuja imaginação se estruturava através de relexos de imagens num espelho embaçado de alegria...de angústia...de criação...

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  3. Ismar!!! ..."e as imagens emudeciam, uma a uma..." Que maravilha! Você sempre tão profundo em suas divagações! Grande beijo!

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