quarta-feira, 8 de junho de 2011

Bem longas as horas, enquanto


Entreolharam entre os quadros nas paredes, todas impecáveis em Pinturas Negras. Pouco a pouco um sorriso desconfiado e o olhar breve também tão contemplativo - bem breves, e longos pareciam ser dentro das expectativas silenciosas de cada um. Ao mesmo tempo, os sorrisos de um lado e do outro, tão sutis, quase imperceptíveis, mas, pouco a pouco, era quase sem mais lugar para esconderijos. A boca comprimida e a boca escondendo os dentes caninos, apertando o interior do lábio inferior, na busca de disfarçar, ocultar os sorrisos que eram quase gargalhadas provocadas pelo agradável incômodo do que logo se fez emoção. A emoção leve, ainda sem pretensão alguma, embora na mente e no corpo paisagens antecipando as horas seguintes, instantes possíveis delineados por imagens íntimas, divagando.

Nunca antes alguma palavra, nunca antes. A voz desconhecida e, talvez para sempre, nada além do efêmero de um acaso.

Nas paredes imensas os quadros pareciam outros, embaçados, imagens trocadas num colorido muito mais no interior, não no interior das salas e corredores imensos, não. Não era o efêmero de um acaso, não mais, e nem acaso era,

se os sorrisos compartilhados, se a voz em palavras múltiplas, se a boca, se as horas longas, bem longas as horas,

enquanto Goya impecável nas paredes imensas, ilustrando as agradáveis recordações depois das horas que não foram efêmeras.

5 comentários:

  1. Lembrou-me de um lugar específico. Acredito que seja mesmo aquele o lugar se sigo as pistas tão bem elaboradas do texto.

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  2. As Pinturas Negras, um dos pontos altos da arte. A perplexidade que encanta, assim como as nuances da escrita e das palavras. Muito, muito bom! Fiz a minha interpretaçao...

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  3. Por onde ando, sempre me demoro.

    Abraço

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  4. Delícia de texto...

    Escreva um pra mim!

    (.....................)

    :)

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  5. I.
    Nada em seu texto é por acaso. Portanto, uso uma lupa no melhor sentido possível, para eu eu possa perceber os mínimos detalhes que podem estar pelos cantinhos. Percebe? Foi o que acabei de fazer agora com uma lupa de lentes imensas a me auxiliarem na leitura. Fantástico!

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