sábado, 6 de agosto de 2011

Uma travessia mágica


Dentro do barco havia um mar. Um mar inteiro dentro do barco. Águas límpidas e flutuantes no imaginário de sua única tripulante, navegando sem saber ao certo se era realmente o mar ou se ainda era o rio. Bem ao longe, ela avistava uma ponta ao que antes era o infinito. Bem ao longe, ela avistava a terra, sem saber se era a terra firme ou se apenas uma ilha que desaparecia no elevar das águas.

Lentamente, movida pelos calmos movimentos das águas, ela avistou o horizonte dentro de si mesma. Fragmentos e amplitudes do ser, o seu, ela incerta quanto ao desejo de enfim ancorar num porto mais próximo ou se ainda era cedo demais, se muito ainda havia a ser submergido em busca do encontro. Vontade nenhuma de antecipar as horas, antecipar o tempo, receio de novamente se precipitar, se os rastros de nuvens acinzentando na superfície entre o Céu e o suave vento a balançar os seus cabelos, movimentos da vida naquele instante.

Numa imagem inesperada, viu que o mar se avançava dento do barco, ela sem receio algum. Sabia, por mais que disfarçasse, sabia que a imagem que sobressaia não era a imagem do real. “O que é real? E o que é imaginário?” indagou-se, sem desejo de respostas. Sem querer desejar, sem querer desviar a sua travessia para o mundo fantástico dentro dela, dentro do barco, dentro do mar, dentro de qualquer que fosse o espaço que sublimasse as horas. Ela assim, sem saber ao certo desde quando, o fim da fantasia misturada na limpidez das águas que lhe permitiam ver o quão serena podem ser as coisas, imaginárias. “As coisas imaginárias são também reais?”. Novamente indagou-se, ao perceber que não era o mar e nem o rio dentro do barco. Era o barco navegando sobre as águas, e ao seu redor um oceano inteiro. Lá no infinito, a terra onde um dia o barco ancoraria. Um dia, num tempo que podia ter sido ontem, ou logo mais.

Sem querer se importar com a imprevisibilidade das horas, prosseguiu em sua viagem mágica, movida pelo poder da imaginação.


2 comentários:

  1. "O imaginário é a tentativa de dar conteúdo ao vazio: colocar imagens num espaço, preencher empiricamente um oco." O oco, o nada, a vida, as viagens repletas de silêncio e de bagagem. Navegando neste barco, admirando belas paisagens, sem medo do mar...esse elemento tão poderoso.

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  2. Adorei!!! Viajei no imaginario e os sentimentos mais profundos vieram à tona... Seus textos nos fazem sentir isso!!

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