domingo, 6 de novembro de 2011

"coisas ficam para trás"


Foi até o fim, mesmo percebendo que não havia mais nada lá dentro, lá no fundo, lá no final, mais nada além de algum resto de coisas que ficaram por acaso, e que ninguém se importava em rever, recuperar, pegar, “coisas ficam para trás”, pensou enfaticamente e se apegando à certeza de que teria que prosseguir.

“Coisas ficam para trás”, repetiu naquele momento, desejando que aquele fosse apenas mais um instante alheio, não seu. E repetiu que coisas ficam para trás, horas, dias, tempo, o tempo sem círculo, sempre linear, sempre a linearidade a ampliar a distância, por mais que íntimo, por mais que o pensamento, por mais que a força das recordações, por mais que a vivacidade do olhar, sempre lhe parece que a linearidade do tempo é mesmo mais forte, criando crostas em vidros embaçados, opacos.

Embora mantivesse o seu olhar em direção ao que ele não enxergava à sua frente, foi inevitável o breve instante em que olhou para o canto, não apenas o da estante já quase vazia, mas, e muito mais, para um canto outro, aquele que o fez engolir aquela saliva travada na garganta, como se fosse pedra.

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