domingo, 4 de dezembro de 2011

O que há dentro da taça vazia?


E de onde surgiu essa ideia de que nada vezes nada é nada? E de quem é essa conclusão cheia de certeza de que não há algo lá dentro, algo lá nos cantos do lugar chamado Nada, o lugar, há um lugar que se chama Nada, há um desejo que se chama Nada, há um estado de fazer que se chama Nada, O que você deseja? O que você está fazendo? Nada. Nada? O desejo cheio de nada é um desejo cheio de coisas mais. Sublimadas? O desejo lá no inconsciente nunca é nada, é muito mais, até desconhecido, se o desconhecido houvesse no íntimo, absolutamente... O íntimo de quê? Dos diálogos silenciosos e gritantes e tão diversos, adverso, o alter-ego, o ego, o inconsciente, tudo na velocidade do pensamento. E o nada? O que você está fazendo? Nada? E pensar é nada? Nunca o pensamento parado por completo, ainda que uma linha quase invisível, quase pluma, quase uma fita transparente como aquilo que está por detrás do olhar que não o do outro, o Outro, quem o Outro? Lacan, o olhar do outro sempre, sempre ligado aos fenômenos de... Unheimlichkeit, letra por letra dessa coisa que se chama Estranheza quando as letras de cá... Estranheza? O Outro é esse lugar de questionamento do sujeito, Nada? Como não há nada se tantas coisas surgem nesse instante misterioso, enigmático, tudo parado, o silêncio aconchegante, acolhedor o silêncio e, daí, o pensamento cheio de coisas assim caladas e a fala, o discurso, essa outra coisa do Poder do discurso, tudo invisível, o Outro seria aquilo que para Freud é o inconsciente... Impossível. Impossível dizer que nada vezes nada é nada se tudo surgiu assim de um nada, de repente, mesmo que sem lógica, sem sequência, fragmentos que se juntam, se fazem, se tornam, se unem, e há alguma unidade, diferentes as unidades do fluxo de consciência. Joyce. Quem? Joyce. Talvez, tudo tenha vindo de lá, das águas, aquela água tão azul, o dia tão azul e tão cinza e tão íntimo na taça repleta em suas margens. As suas margens. Não a sua borda. O que há dentro da taça vazia?

2 comentários:

  1. Como sempre você se supera. Será que ainda tenho elogios suficientes para seus textos? Minha taça está vazia porque bebi as lembranças, os suspiros, os amores, os momentos, as lágrimas, os risos. Toda a mistura da taça agora está dentro de mim... provocando um efeito doce, amargo, um gosto de nada e de tudo... um gosto de sublime e eterno que somente eu e meu "eu" entendem.

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