segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Simbologia imaginária


Abriu a caixa que lhe fora entregue no encontro na avenida e viu que lá dentro não havia tanto quanto a bela embalagem aparentava. Logo pensou na essência das coisas, na simbologia imaginária dos objetos, na simplicidade que pode morar detrás da suntuosidade, na velha imagem do falso brilhante: lá dentro dele tantos resíduos, e a pedra que tanto brilhava nada mais é que o efêmero de algum instante encantado.

Sustentou a caixa em suas mãos, uma felicidade leve e agradável, enquanto retirava de seu interior algo tão simples, bem simplezinho. Entretanto, ao torná-lo visível aos seus olhos, a felicidade leve e agradável começou a ser desconstruída. Um querer entender a grandeza da embalagem em seu amarelo quase dourado, o laço perfeito, uma embalagem ostensiva, e que tanto se contrastava com o simplezinho demais.

De repente, analogias sobre a vida e sobre as coisas, sobre tudo e sobre os fragmentos que se juntavam um ao outro, enquanto pensava no sentido daquele instante: tão simplezinho e tão sem sentido a aparência e a essência, a embalagem e o que nela havia.

E, de repente, construiu outro instante, daqueles que abrigam apenas suposições: abriu a caixa que lhe fora entregue no percurso pela avenida e viu que lá dentro havia muito mais do que a bem simples e pequena embalagem revelava. Logo, pensou novamente na essência das coisas, na simbologia imaginária dos objetos, na grandeza que pode estar detrás da simplicidade, na imagem misteriosa do brilhante que brilha, brilha, brilha, às vezes tão falso, às vezes tão verdadeiro, às vezes apenas fantasia. E o vento.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Espelhos imaginários e o outro espelho


Releu nas paisagens acinzentadas do tempo os movimentos do prazer de luzes incandescentes
e agora é a súplica tão tardia se não for o milagre.
Lá no nevoeiro do tempo estavam os porta-retratos, expostos ao lado de outros, com fotografias no subterrâneo das recordações.
Um cheiro ácido exalava não apenas do frasco do seu perfume, que já não parecia ser o mesmo,
por mais que o aroma extraído da pura essência, era agora um cheiro vindo de algum sótão e que se misturava ao outro,
o do frasco de nova fragrância, mas que nunca disfarçava a acidez corrosiva do velho perfume.
O seu olhar já não conseguia fingir, desde quando percebera que o outro tempo havia voado para um destino imprevisível em si mesmo, mas ali, perceptível pelo seu próprio olhar interior.
Aquela certeza mergulhava em seus devaneios
e eram sentimentos visíveis nos imensos e belos espelhos das vitrines por onde passava e outros espelhos
estilhaçados e espalhados nas vitrines de si mesmo,
tantos espelhos, enquanto as fragrâncias exalam perdendo o seu aroma e se transformam em frascos vazios.
A fragrância resistente, dentro do frasco vazio.