quarta-feira, 14 de março de 2012

Tão possíveis que...


E depois daquele longo contemplar o rio, depois do prazer, aquela imagem se confundia com o mar, ainda mais infinito. A noite se prolongou depois do cais, e a travessia, ao retornar, oscilava calmamente no balançar das ondas brandas. Depois veio um quase silêncio. Um tempo para as palavras: “às vezes, as palavras precisam de tempo, necessitam de um repouso”. Sorriu, enquanto as palavras metamorfoseavam em sensações, sem deixarem de ser palavras, outras.

Depois de um tempo, admitiu não se lembrar de quem havia dito que, às vezes, as palavras também precisam de um tempo, mas que compreendia que tudo já deve ter sido dito, de outro jeito, de outra maneira, e o silêncio novamente se reaproximou, disfarçado como se não fossem palavras.

“Maintenant que nous sommes seuls, et que nul ici ne nous entend...” Escreveu no papel com aquela expressiva letra de forma, imagem elegante das palavras como se fossem quadros espalhados pelo desejo e, ao mostrar-lhe o escrito, perguntou-lhe o que tais palavras poderiam lhe dizer: “Nada”, respondeu, mas, certamente, bem mais do que apenas simples respostas, sabia haver ali mais do que supôs no imediato do instante. Num trocar de sorrisos e de sintonias, pegou o papel, de volta, e o traduziu, bem de perto. Repetiu todas as palavras, cheias de qualquer coisa erotizada.

Num estado de sincronia, viram novamente o rio, ainda mais azul, brilhando ainda mais pelo contentamento interior e repetiu a tradução de Cervantes, enquanto lacunas eram preenchidas: “O objeto do desejo é diferente do erotismo. Foi umas das coisas que fiquei pensando quando li Bataille. E ficamos ali, também entre essas conversas, e que talvez se encaixassem em sua “Maintenant que nous sommes seuls...”.

O rio já estava escurecido, entretanto, iluminado pelas luzes, o clarão da lua: e os pensamentos que podem iluminar lá fora e cá dentro dos espaços físicos e interiores de cada um: “Maintenant que nous sommes seuls...”

sábado, 10 de março de 2012

Como se não fosse ao acaso


Andou meio por ali como se não fosse ao acaso e interrompeu a caminhada quando se viu perplexo diante de um instante chamado, provisoriamente, Coisa do Destino. A fotografia congelada, embora pulsando desde o começo até um tempo posterior, meio sem hora, sem relógio, sem. Até que a imagem foi configurando-se em palavras, gargalhadas inevitáveis, um contentamento contornado pela noite que chegava e, no outdoor, sim: no outdoor a coincidência marcada nas palavras e imagem que expressavam algo semelhante àquele instante, contornado por uma sensação inevitável. Pouco a pouco, o que, por falta de nome havia sido chamado de Coisa do Destino, encontrou tantos outros nomes: pois os instantes se multiplicavam em outros até que, por fim, nome algum, nenhum, se nem tudo encontra a precisão, a exatidão capaz de definir algo pela falta de palavras. Então, sem nome, o silêncio ocupou todo o espaço e se fez uma calmaria diante do imenso rio.