segunda-feira, 18 de junho de 2012

As flores nunca existiram, pensou.



Todas as horas partiram no mesmo instante em que percebera que não havia flores alguma, as flores que enfeitavam as fotografias coloridas e as que eram belas por serem em preto e branco. As horas deslizavam como águas sobre um rio que transbordava suavemente em seu leito, suavemente as flores deixaram de existir, até que o seu retorno imprevisível na memória.

Nos jardins, um realce das cores enfeitava a cidade. E na casa, sobre a mesa e nos cantos da sala, o colorido se espalhava pelos ramos verdes, bem verdes os ramos de repente secos e sem colorido algum nos vasos sobre a mesa e nos cantos da sala. Muito menos. Muito menos nas avenidas, sem os jardins que enfeitavam a cidade nas fotografias diante dos seus olhos encantados com o que era, e muito mais com o que seria. Foi quando percebera que todas as horas partiam.

As horas partiram, bruscamente, como se nunca fotografia alguma. Tudo, talvez, sempre fantasia, como se fossem lentes de imagens esquizofrênicas, imaginárias as imagens que enfeitavam a casa de salas amplas e corredores imensos, largos, estreito outros corredores quase se espremendo entre as salas que não mais existiam.

“As flores nunca existiram”, pensou. E não conseguiu evitar o súbito pensamento de que a loucura, “Não, não era loucura”, não, não era a loucura, eram apenas vozes cochichando em seus ouvidos, dizendo que nunca, nunca houvera flores alguma. “Nem as coloridas?” Nenhuma resposta.

Todas as horas partiram. Então, decidiu prosseguir pela avenida, sem nem mesmo saber se havia saído do seu quarto: apenas um rio transbordando vozes, todas as vozes se alimentando com um deleite encontrado num álbum de fotografias. Uma a uma as fotografias cheias de flores tão reais e imaginárias, enfeitando a vida e os silêncios íntimos.