sábado, 28 de julho de 2012

e viu que tudo era horizonte


Quando os dias se foram e ela percebeu que no palácio nada mais haveria, decidiu que era hora de limpar todos os móveis, retirar toda a poeira acumulada sobre eles e arrumar os objetos espalhados na euforia dos últimos dias. Decidiu com uma tranquilidade encontrada no meio das expectativas, quase nunca abandonadas, e outras reencontradas no tumulto dos pensamentos resgatados de seus paraísos.

- Não se abandona uma expectativa no meio do caminho. Ela repetia em voz alta, mesmo que apenas para si mesma. Repetia, sempre que qualquer coisa dentro dela se mostrava como um prenúncio de que era hora de parar, desistir, interromper.

Mais tarde daquele dia, ela repetiu que não se abandona uma expectativa no meio do caminho, mas, agora, em um tom fragilizado, ela surpreendida por uma voz que insinuava se confundir com outras vozes, as impávidas, múltiplas. Uma voz pretendendo reformular a sua frase tão repetida.

Mesmo com alguma inquietação, ela prosseguiu nos espaços imensos de seus palácios. Os passos contidos, fragilizados. Ela, entretanto, sem perder a força que alicerçava o passo seguinte, os passos seguintes, sem perder a voz que lhe falava da existência de outros horizontes, outros horizontes, outros, mesmo quando nem tantos.

Na sequência das horas, ela abriu a imensa porta do palácio, aquele lugar que ela chamava palácio, olhou ao redor, e viu.

Tudo era horizonte.


Um comentário:

  1. E viu pela primeira vez o horizonte opaco e vazio...sentou-se enconstada a porta do seu palácio, lentamente pegou o copo de água que ainda estava no chão...sentiu seu paladar frio, não sabia se vinha do horizonte aquele gosto tão amargo que apertou todo o seu corpo...finalmente, deitada sobre as folhas sentia o sabor da liberdade, namorava a terra fofa e molhada enquanto observava sobras de luto ao seu redor...
    bjs e saudade

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