quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Na janela da sala enfeitada


Lá no alto, na janela da sala enfeitada de lustres dourados e repletos de lâmpadas que de cá de baixo nem dava para contar quantas eram, ela repousava o seu rosto envelhecido e melancólico, contrastando-se com os requintados móveis que compunham o ambiente do mais elegante prédio da rua. Ela, misteriosa, e o transparecer das alterações de um tempo que lhe doía no peito não apenas as emoções.

Ela, em seus cabelos enfraquecidos pelas tinturas que, durante anos, apagavam parte do tempo, ela prostrada na janela, sem nem mais um resto de entusiasmo para pentear as suas mechas antes volumosas, as suas pernas antes tão torneadas e ela a desfilar nos famosos salões da cidade. Ela, sempre cheia de expressões e gestos entusiastas, eufórica, e agora uma fragilidade intensificada pelas recordações dos exuberantes vestidos em decotes que realçavam os seus seios rijos e a pele nunca antes imaginada sem o vigor perdido.

Era sempre o adiar das horas de quando sentiria que os passos sobre a terra se transformariam em sombras daquilo que havia se declinado, voraz.

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