sábado, 12 de janeiro de 2013

A ponte, apesar do rio - IV


Enquanto contemplava o silêncio derramando o seu límpido gozo nas margens do rio, pensou no quão havia sido bom não ter verbalizado o seu pensamento a respeito do tempo. Aquele não era o momento. Teria desviado o destino daquele instante que se fez fundamental para que a noite findasse como uma tela bela e imensa, estampada na parede da memória. Não era hora de falar do tempo, não era hora de falar no amanhã, não era hora de falar. O que importava era a sutileza do instante, para que o amanhã pousasse suave na noite com as suas asas imensas, pronto para o amanhecer.

Depois, as palavras. Novamente as palavras, reconfortantes, saboreadas como se fossem alguma espécie de matéria comestível. Elas, contentes e saltitantes, andando na margem do rio, enquanto observavam um ao outro e observavam os transeuntes calmos e apressados atravessando a ponte. A ponte cheia de significados e com centenas de lâmpadas, todas, todas as lâmpadas acesas, iluminando o rio, as cidades, o mundo, o universo inteiro.

As asas da noite sobrevoaram o tempo, acompanhando os seus ponteiros marcando os segundos, os minutos, as horas... E tudo o que era do ontem, no ontem ficou, intransponível. Mas, o que ao hoje pertencia atravessou a noite nas imensas e belas asas do tempo, e no hoje está. O tempo é cheio de pontes, algumas palpáveis, e outras não. Aquelas são milhões; e estas, incontáveis, infinitas. E as asas do tempo sobrevoam, incansáveis e incessantes.

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