sábado, 13 de abril de 2013

O cheiro de alecrim: como se fosse pássaro



Ela não disse nada. Com o jarro em suas mãos, ela permaneceu diante da mesa coberta por uma imensa toalha amarela, um amarelo bem claro, quase tão empalidecido quanto o seu rosto naquele instante de inesperado recuo no tempo. A longa toalha sobre a mesa e nada mais, aparentemente nada mais.

Os pratos brancos e os talheres ocupavam os devidos lugares ao redor da mesa: o cheiro de alecrim exalava do lombo farto e dourado, assado e rodeado por largas rodelas de batata igualmente douradas e frutas caramelizadas. Era aquele o prato que ocupava o centro da mesa, numa longa travessa de vidro transparente, independente de dia de comemoração, dia qualquer, mas quase sempre num domingo. Uma fatia, duas fatias, todas as fatias do lombo suculento e recheado com qualquer detalhe que o diferenciasse do anterior.

Ela permaneceu sem dizer nada. O lombo cuidadosamente servido, um a um de todos ao redor da mesa, e todos degustavam com um prazer nítido: o sabor crocante deslizava sobre o paladar e o movimento dos talheres se tornara inesquecível com o seu som melódico. Ela não disse nada. Pouco a pouco, a mesa começou a se esvaziar, a melodia a se distanciar, e ela, então, pousou o jarro sobre a mesa, no centro, bem no centro, enquanto, densamente, sentia o cheiro de alecrim que havia pousado na sala, como se fosse pássaro.

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