quinta-feira, 30 de maio de 2013

A linha tênue



A sensibilidade do instante
Um vácuo
Uma linha tênue
Madrugada
A linha tênue
O vácuo
Nada

A linha tênue
O vácuo
O jato
A nuvem
Tudo um vácuo
(Nada mais)
Tudo.

O fio
A linha tênue
O vácuo
A luz.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Silêncio e o Tempo



Desde ontem, ela está com vontade de chorar, mas não tem conseguido. Ao final da tarde, quando tudo parecia prestes a romper em seu interior, vislumbrou qualquer coisa semelhante a uma faísca de luz, mas não era nada além de efêmeros efeitos fumegantes.

Ela, tomada pelo efeito de uma epifania deslizante, viu a tarde passar e entregar à noite o poder de dominar o tempo, para que ela, a noite com a sua enigmática cor, concluísse o dia. Entretanto, as horas - invisíveis e intocáveis - prolongaram-se perceptíveis e devoradoras como se possuíssem garras: as horas bem mais prolongadas que as de todas as noites anteriores.

A noite, tantas vezes antes piedosa ao sustentar um vaso de bálsamo, tornara arrogante e sem misericórdias. Assim, arrogante, prolongava o tempo com as suas mãos sobre os ponteiros do relógio, parados durante segundos e minutos transfigurados em horas que se distanciavam do amanhecer: aquele lugar onde estava depositada qualquer que fosse a esperança.

“Estou com vontade de chorar, desde ontem”. Ela repetiu, ao amanhecer do dia, e repetiu ao início da tarde, ainda sem saber a razão, ainda sem saber o que se passava dentro dela mesma. Mas, ao final da tarde, quando o círculo do dia estava prestes a recomeçar, ela desconfiou de que, talvez, fosse por causa das fotografias remexidas, as cartas relidas, as imagens e as palavras que se aliaram umas às outras e se transformaram numa sensação sem nome, sem rosto, sem forma, sem voz.

Tudo se fez silêncio. E ela agarrou-se a ele numa sintonia íntima. Ele, o silêncio, acolhedor, com o seu sopro sensível e quase imperceptível a conduziu naquela travessia, até o instante em que ela percebeu que o tempo se faz novo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

(Não) Foi




Não foi a chuva
Não foi a relva
Não foi a ferrugem
Não foi o vendaval.


Não foi a correnteza
Não foi o lodo
Não foi o vento.

Não foi isso
Não foi aquilo
Não foi nada.

Foi o tempo.