quinta-feira, 29 de agosto de 2013

É vento, é pó, é tempo


A cor do tempo verde ao vento
Branco e cinza as cores do vento, e azul, assim é o tempo
Baila no vento brando o tempo e outras vezes no vendaval
No vento brando o sereno tempo imprevisível cor
Colorido ou não o vendaval é tempo sempre
É o tempo. O tempo é vento e na poeira o pó do tempo
Todos os dias o tempo e o pó
Todos os dias é vento, é pó, é tempo.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Paredes de vidro


E porque as vestes não eram,
a nudez novamente
diante de uma avidez das horas interiores.
As horas alheias ao tempo lá fora
Lá fora
Do outro lado das paredes de vidro: mundos desconhecidos.
Lá fora.
E dentro,
o desejável revelando-se impossível.
Tudo antes impensável, e depois
Tantas coisas preenchendo lacunas do que antes nunca seria.
As lacunas do que antes era nada além do apenas novamente
Nada além de um instante.
E, depois,
Tempos depois,
um sabor estranho demais.

domingo, 4 de agosto de 2013

As flores são sempre iguais, mas nunca as mesmas, nas casas nunca iguais


Não é esta a estação. É a próxima. Mais alguns poucos minutos e o trem chegará. Uns cinquenta e cinco minutos, aproximadamente uma hora. É sempre isso, nunca mais que isso. Mas já lhe antecipo uma coisa: ao chegar lá, não se assuste com a estação, pois ela não é bela como esta. Houve um tempo que sim! Depois, tudo mudou, mas não apenas por causa do próprio tempo. As paredes já não são as mesmas, as cores estão cada vez mais envelhecidas, e nunca se importaram em restaurá-la. Entretanto, para alguns, mesmo assim ela continua sendo mais bela que esta; para outros, e para a grande maioria, não! Para estes, os velhos tempos levaram toda a beleza que nela havia. “Era a estação mais bela, incomparável.” Sempre dizem isto quando relembram aquele tempo e o tempo de hoje. Todavia, uma coisa eu posso lhe garantir: você se surpreenderá ao atravessar o portão daquela estação. Quem nunca esteve ali antes se surpreende, e mesmo aquele que já esteve se surpreende novamente. Aquela estação é tão paradoxal com aquilo que há depois do portão! Aquilo que surge depois daquele imenso salão... A travessia sobre aquele piso ainda tão bonito, ainda que meio estragado. Ao se deparar com a rua, você verá um dos lugares mais belos e instigantes. Uma beleza “radiante e inexplicável”. É assim que todos definem aquela cidade. O pomar! Surpreendentemente, há um pomar logo após a estação: uma água tão limpa, a claridade imensa, nada, nada ao redor. Depois do pomar, surgem as casas, as ruas, as avenidas, tantas casas enfileiradas como se fossem casas de brinquedo. O brinquedo projetado na vida. Entende? Entende como é casa de brinquedo mas que parece ser real e casa real que parece ser de brinquedo? Não sei. É uma cidade onde todos os dias o trem atravessa, e, embora alguém sempre parta, também alguém sempre fica. Ainda assim, há dias em que não se vê ninguém, e outros dias em que todas as pessoas parecem sair ao mesmo tempo, um tempo breve, muito breve. Numa ocasião ou noutra, há algo em comum: a sensação de encantamento, o que comprova que o gozo não surge apenas por uma via. Há muito mistério naquela cidade. O predomínio das cores é algo que resplandece. O amarelo e o azul. Quase tudo amarelo. E o verde. Em cada casa há um jardim. Em todas. Se não à frente, visível e sedutor aos transeuntes, ele estará ao fundo. Há sempre um jardim, não importa onde, e as flores são sempre iguais. As flores são sempre iguais mas nunca as mesmas nas casas nunca iguais.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

E quando depois


E quando depois, horas depois, disse a verdade, já não havia tanto tempo para reconstruir o desejo já transfigurado, a vontade, o prazer, mesmo nos momentos mais simples como naquele dia em que a paisagem lá fora era transeuntes pra lá e pra cá e imaginávamos seus monólogos refletindo a respeito da própria vida e suas esperanças, mesmo que tão fantasiosas; e, outras vezes, de lá do alto da janela imaginávamos os diálogos tão confortáveis, outros sem conforto nenhum; e novamente a vida espalhada sobre as expectativas imprevisíveis, tudo, tudo tão imprevisível e dizíamos quase em uníssono: “chega um momento que só se deixa enganar quem quer, quem tem medo de encarar a dor, quem tem medo de dizer: “chega!”. Lembra-se? E, naquele dia, naquele dia em que de repente a chuva caiu inesperadamente na sacada da janela e o frio surgiu sem antecipar que a noite seria tão fria, fechamos a janela, a porta do quarto, apagamos a luz, e, mesmo às 3 horas da manhã e mais alguns poucos minutos, ainda confabulamos a respeito da escuridão, a noite tão escura, e a certeza de que o amanhã seria exatamente como teria que ser: tudo imprevisível. Assim, salientamos que ele, o imprevisível, pode ser o lugar exato do começo, do início, do fim. Depois de uma breve pausa, ainda concordamos com a possibilidade da ordem contrária das coisas: o fim, o início, o começo.