domingo, 4 de agosto de 2013

As flores são sempre iguais, mas nunca as mesmas, nas casas nunca iguais


Não é esta a estação. É a próxima. Mais alguns poucos minutos e o trem chegará. Uns cinquenta e cinco minutos, aproximadamente uma hora. É sempre isso, nunca mais que isso. Mas já lhe antecipo uma coisa: ao chegar lá, não se assuste com a estação, pois ela não é bela como esta. Houve um tempo que sim! Depois, tudo mudou, mas não apenas por causa do próprio tempo. As paredes já não são as mesmas, as cores estão cada vez mais envelhecidas, e nunca se importaram em restaurá-la. Entretanto, para alguns, mesmo assim ela continua sendo mais bela que esta; para outros, e para a grande maioria, não! Para estes, os velhos tempos levaram toda a beleza que nela havia. “Era a estação mais bela, incomparável.” Sempre dizem isto quando relembram aquele tempo e o tempo de hoje. Todavia, uma coisa eu posso lhe garantir: você se surpreenderá ao atravessar o portão daquela estação. Quem nunca esteve ali antes se surpreende, e mesmo aquele que já esteve se surpreende novamente. Aquela estação é tão paradoxal com aquilo que há depois do portão! Aquilo que surge depois daquele imenso salão... A travessia sobre aquele piso ainda tão bonito, ainda que meio estragado. Ao se deparar com a rua, você verá um dos lugares mais belos e instigantes. Uma beleza “radiante e inexplicável”. É assim que todos definem aquela cidade. O pomar! Surpreendentemente, há um pomar logo após a estação: uma água tão limpa, a claridade imensa, nada, nada ao redor. Depois do pomar, surgem as casas, as ruas, as avenidas, tantas casas enfileiradas como se fossem casas de brinquedo. O brinquedo projetado na vida. Entende? Entende como é casa de brinquedo mas que parece ser real e casa real que parece ser de brinquedo? Não sei. É uma cidade onde todos os dias o trem atravessa, e, embora alguém sempre parta, também alguém sempre fica. Ainda assim, há dias em que não se vê ninguém, e outros dias em que todas as pessoas parecem sair ao mesmo tempo, um tempo breve, muito breve. Numa ocasião ou noutra, há algo em comum: a sensação de encantamento, o que comprova que o gozo não surge apenas por uma via. Há muito mistério naquela cidade. O predomínio das cores é algo que resplandece. O amarelo e o azul. Quase tudo amarelo. E o verde. Em cada casa há um jardim. Em todas. Se não à frente, visível e sedutor aos transeuntes, ele estará ao fundo. Há sempre um jardim, não importa onde, e as flores são sempre iguais. As flores são sempre iguais mas nunca as mesmas nas casas nunca iguais.

Um comentário:

  1. Tenho certeza de que ele vai adorar rever a estação...seja ela de trem...seja inverno, verão, primavera ou outono...não importa a ordem...está tudo lá...ainda que seja diferente...as cores, elas, ainda vivas na lembrança são iguais, são desiguais, mas ainda são...
    Com amor e saudade,
    Cláudia.

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