quinta-feira, 1 de agosto de 2013

E quando depois


E quando depois, horas depois, disse a verdade, já não havia tanto tempo para reconstruir o desejo já transfigurado, a vontade, o prazer, mesmo nos momentos mais simples como naquele dia em que a paisagem lá fora era transeuntes pra lá e pra cá e imaginávamos seus monólogos refletindo a respeito da própria vida e suas esperanças, mesmo que tão fantasiosas; e, outras vezes, de lá do alto da janela imaginávamos os diálogos tão confortáveis, outros sem conforto nenhum; e novamente a vida espalhada sobre as expectativas imprevisíveis, tudo, tudo tão imprevisível e dizíamos quase em uníssono: “chega um momento que só se deixa enganar quem quer, quem tem medo de encarar a dor, quem tem medo de dizer: “chega!”. Lembra-se? E, naquele dia, naquele dia em que de repente a chuva caiu inesperadamente na sacada da janela e o frio surgiu sem antecipar que a noite seria tão fria, fechamos a janela, a porta do quarto, apagamos a luz, e, mesmo às 3 horas da manhã e mais alguns poucos minutos, ainda confabulamos a respeito da escuridão, a noite tão escura, e a certeza de que o amanhã seria exatamente como teria que ser: tudo imprevisível. Assim, salientamos que ele, o imprevisível, pode ser o lugar exato do começo, do início, do fim. Depois de uma breve pausa, ainda concordamos com a possibilidade da ordem contrária das coisas: o fim, o início, o começo.

Um comentário: