quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Empoeirando o Tempo


Ela passou o tempo arrastando os móveis da casa, os móveis arrastados sem nunca terem saído do lugar. Alguns, de um tempo mais recente, mas tão pesados quanto os outros de antes, bem de antes: aqueles móveis de quando as horas de recordações afetivas não eram imprecisas. Nada parecia impreciso, antes. E de repente os quadros nas paredes envelheceram e as suas molduras perderam o seu dourado, empoeirados juntamente com as fotografias que coloriam o tempo. Ela sem querer compreender que nada daquilo que ela sentia podia ser amalgamado em móveis e em coisas de maneira a eternizar o que jamais viria a ser, senão dentro da casa que é ela mesma. Não eram os móveis, nem eram as coisas, e, paradoxalmente, eram eles ocupando os mesmos espaços do que pulsa dentro dela. Ela, acumulando coisas detrás dos bibelôs pretendidos a enfeitar o móvel de portas espelhadas; e coisas tumultuadas dentro do jarro de porcelana sem brilho algum num canto da sala, e debaixo da toalha de linho cobrindo o centro da mesa. Ela, acumulava tudo aquilo dentro dela, empoeirando o tempo.

Um comentário:

  1. Tomou coragem, assumiu que o jarro não estava no canto da sala. Havia mentido todos esses anos. O jarro, aquele de porcelana já sem brilho algum, ocupava o lugar central em seu peito. Respirou fundo, rasgou a pele, tomou o jarro nas mãos e o jogou pela janela. Enquanto costurava seu corpo via feliz seu coração bater novamente, recuperando anos de felicidade, livre de toda a poeira. Olhou discretamente pela janela, o jarro caído no chão, com manchas vermelhas, não havia quebrado, aguardava o próximo dono.
    Como sua leitura me inspira, Ismar!!!
    O romance é para ontem!!!
    Bjs e saudade,
    Cláudia.

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