sexta-feira, 11 de abril de 2014

A loucura rodopiava



Ele desconfiava de que a mãe era louca. E às vezes parecia completamente louca. Era-lhe difícil admitir tal estado psíquico, logo da mãe! Ele lutava contra os próprios pensamentos e dizia que não, não, não, a mãe não era louca, a minha mãe não é louca, ele repetia, rodopiando pela casa e atormentado em seu quarto. Ele rodopiava em cima da cama, na hora de dormir, rodopiava, rodopiava como um parafuso que despenca no chão, sem rumo, e rodopia, rodopia e às vezes desaparece.

Ele, apesar de muito relutar, num esforço de convencer a si mesmo de que a mãe não era louca começou a admitir que não tinha mais como enganar a si mesmo e nem adiar o tempo. Assim, impotente diante do acúmulo de cenas atormentadoras, ele, num choro profundo, manifestou a dura realidade. Entretanto, apenas para si mesmo, tudo travado em seus pensamentos.

E depois, minutos depois, destravou.

A opressão forçou tanto que ele ouviu o ruir das paredes do pensamento, e, então, ele gritou desesperadamente em seu quarto, ele escondido debaixo do cobertor. “Ela é louca. A minha mãe é louca. A minha mãe, ela é louca”. E ficou ali, angustiado, ouvindo o eco de sua própria voz rodopiando dentro do quarto e atravessando as estreitas frestas da porta e da janela. O eco que atravessava a fresta da porta se misturava a outros que circulavam na sala e demais dependências da casa,ele desesperado, enquanto o eco que atravessava a fresta da janela circulava na rua e nos apartamentos circunvizinhos. Ele ainda mais encolhido debaixo do cobertor, e o vapor quente ruborizava o seu rosto sempre tão pálido.

Um comentário:

  1. "E ficou ali, angustiado, ouvindo o eco de sua própria voz rodopiando dentro do quarto e atravessando as estreitas frestas da porta e da janela."

    És muito talentoso!

    Inspirado em alguém?

    Abraço

    ResponderExcluir