segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Cais desordenado



Amanhã partirei novamente, com a certeza de que é sempre hora de partir e é sempre hora de chegar. Mais uma viagem de volta, a volta que pode ser para partir ou para chegar. Eu parto de um cais desordenado em suas águas ora inquietas e ora tão suavizadas, eu parto mergulhado em imensas imagens absorvidas em mim.

Dentro de mim o calmo cheiro que não se apaga com qualquer vento, ainda que vendaval; comigo, as lembranças de horas inesquecíveis e mais um contentamento do outro lado do rio! Longo, tão longo o rio, e o cais. Não, não, ó tempo! Não arrancarás de mim o doce sabor dos instantes guardados em fotografias eternizadas não apenas em meu peito, e bem sei que tu, ó tempo, não permitirás que fotografias outras partam de mim, escorregadias em seus limos tão viscosos com o tempo.

Amanhã partirei novamente e ouço a Abertura de Tannhäuser, tão intensa quanto eu neste momento. Nela, eu mergulho como se fosse o rio! A cidade encantadora e cheia de imagens guardadas em mim à margem do rio, o rio, o rio e outras imagens repousadas sobre a cama, o final do vinho ainda marcante no paladar, e o cheiro do perfume novamente a preencher recordações, algumas intraduzíveis.