"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Quase véspera de aniversário
Era quase véspera do seu aniversário e ela estava a percorrer as ruas da pequena e elegante cidade em busca de um lugar. Ela desejava um lugar onde todos coubessem confortavelmente lá dentro. As taças de vinho sobre as mesas e nas mãos de cada um dos convidados, o vinho sendo movimentado como suaves ondas dentro das taças. Algumas, ainda cheias, e outras quase vazias. Ali ao redor, algumas garrafas imponentemente eram expostas à espera de alguém. De repente, ela interrompeu o pensamento e o sorriso para a mesa inteira. Criteriosamente, ela havia procurado um lugar para a sua festa, e alguém. Alguém aguardado pelas garrafas de vinho, e que já estava ali, quase todos, e alguém que ainda não havia chegado, ou que ainda chegaria.
E o que não chegaria.
Não naquele seu aniversário, não naquela comemoração, não naquela felicidade. Mas outro dia, quando outras taças, quando outro vinho, outra comemoração. “Sempre haverá de existir outro dia para qualquer que seja a felicidade”, ela pensou, em uma mistura de sentimentos que oscilava entre o prazer de estar ali entre encontros e ausência.
Nem todos chegam no mesmo dia, nem todos chegam na mesma hora, nem todos chegam para a mesma festa. Ela estava segura disso. Então, sem disfarce algum, pegou a sua taça e, enfim, brindou aquele dia. Ela queria estar radiante, mesmo sem outras certezas que ela queria.
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