terça-feira, 1 de março de 2016

Enquanto o café chegava...


Não disse mais nada e foi em direção ao saguão do aeroporto, diretamente para o Café mais próximo. Com a sua natural inquietação em dias assim, pediu um café e começou a observar a atendente, que dividia a sua atenção com um sorriso e uma conversa entre os dentes com a outra atendente, como se o seu café fosse a coisa menos importante para ela e para o estabelecimento. Era exatamente essa a sua conclusão. A falta de atenção no serviço ou seja lá em que sentido for sempre lhe fora motivo de indignação.

Sentiu vontade de sair dali e, ironicamente, agradecer o café que parecia nunca chegar. Mas não. Ele esperaria que a moça cheia de sorriso e conversas disfarçada entre os dente chegasse com o café e, então, ele lhe diria tudo o que estava sentindo por causa daquele descaso, isso sem nem mencionar a sua ansiedade ofegante, prestes a explodir dentro dele, afobado pelo sabor do café para ele viciante e que, mesmo que nem sempre, o ajudava a acalmar a sua ansiedade.

Enquanto a atendente aguardava aquele curto café cair de vez dentro da pequena xícara, ele empurrava para dentro do seu estômado tudo o que ele planejava expressar naquele momento em alto e bom som. Assim que a atendente colocasse o café sobre o balcão, ele planejou, desabafaria com ela sem nem se importar se todos o achariam ridículo e, logo em seguida, exigiria a presença do gerente.

E foi assim que, na sequência dos seus pensamentos, ele ficou ainda mais perplexo e indignado com o desenrolar daquele instante... Olhou bem firme para a atendente, os lábios trêmulos de nervoso, a fumaça do café já quase desaparecida, o aroma que lhe acalmava desaparecia no ar, e ele sem acreditar que, em num mesmo dia, mais um incômodo embaralhava a sua paciência.

“Como assim, a gerente não está?”. Ele perguntaria, ao que ela, a atendente, cheia de “sorrizinhos irônicos entre os dentes responderia: “Não senhor, ela não está mesmo. Foi ao almoço e costuma demorar um pouco”. Ela respondeu, com uma ironia mal disfarçada e acrescentou: “Felizmente!”. Ele ouviu muito bem, e então decidiu tomar o café, sem dizer uma palavra sequer, interrompendo as suas elucubrações antes que o dia se tornasse ainda mais incômodo.

A atendente, por sua vez, começou a preparar outro café, o cliente seguinte, mais uma história desconhecida das dezenas e centenas que passava por ali, todos os dias. Ela, pacientemente, tão próxima e tão distante de cada um deles, sem nem mais sentir direito o aroma e o sabor daquele que lhe fora imposto propagar ser o melhor café de toda a cidade.

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