sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"O que há detrás daquela montanha?"


“O que há detrás daquela montanha?” Perguntou-lhe o desconhecido, que olhava na mesma direção que a sua.

“Uma sombra”, respondeu-lhe, enquanto virava o seu rosto e viu de quem era aquela voz grave e calma, expressão leve, estrangeira, não apenas a montanha desconhecida e a sombra invisível e imaginada em sua forma e em seus sentidos.

Ainda olhando a para a montanha, indagou:

“Uma sombra? Apenas uma sombra?”

“Não apenas uma sombra. Numa sombra nunca é “apenas”, se não alcançamos o outro lado das coisas... É ela, e não a montanha, que muda de lugar; e é ela, e não a montanha, que desenha sem cor o que seria o real.”

O estrangeiro, que não mais era estranho, parou, olhou ainda mais atentamente a montanha, e imaginou a sombra, mas não apenas ela. Imaginou estar diante da própria sombra, e considerou que uma sombra não é a cópia perfeita do ser ou do objeto em si. Viu, então, a longa estrada à sua frente, desconhecida, e imaginou tantas coisas que podiam estar lá.

“Conhece aquele caminho?”

“Eu vim de lá. É um longo caminho, bem longo. Nunca caminhei por uma estrada mais longa. É um caminho cheio de sombras desenhando a sua beleza às vezes misteriosa. Lá, todas as coisas que se refletem em sombras são calmas, bem calmas!”

“E a sombra da montanha?”

“Não sei. Nunca estive lá! Dela, prefiro apenas aquilo que posso imaginar.”

O estrangeiro, que já não era exatamente, refletiu, admirando a resposta, e concluiu o diálogo, silenciosamente, enquanto percorriam pela longa estrada, sem sombra alguma.

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