terça-feira, 15 de outubro de 2013

O que se pergunta ao pó?


Depois de olhar atentamente as prateleiras da velha livraria, encontrou, ao acaso, sem que estivesse procurando-o naquele dia, um único volume do romance que há muito tempo desejava ler. O título o instigava. Com esta sensação, sentou em sua cama, tendo consigo o livro ainda dentro da sacola de plástico que o embalava, e, ali, com os pés sobre a cama, desembrulhou-o. Primeiro leu a contracapa, depois o prefácio, folheou-o lentamente, abriu em qualquer página e leu um parágrafo inteiro.

Ao fim daquela breve leitura, permaneceu com o livro aberto em seu colo: o olhar distante, bem longe, o olhar penetrando na imagem que se entrelaçava com a alma. Estava certo de que amaria aquela leitura. Agora mais seguramente que antes. Entretanto, logo em seguida, recuou um pouco e abriu uma margem para possíveis frustrações em algum momento ou outro. Protegia a si mesmo de qualquer desvio ao qual uma expectativa está sujeita.

O título. O título o instigava. Instigava-o principalmente por induzi-lo a perguntar ao pó, fazer perguntas ao pó, “como pode alguém fazer, qualquer que seja, uma pergunta ao pó?” Perguntou a si mesmo. O pó. O pó no vento, no tempo, na alma, no peito abarrotado de tantas coisas se acumulando no decorrer das horas de cada dia. Tanto tempo e tanto pó, tanto pó no vento, no tempo, na alma, no peito às vezes vazio, bem vazio de tantas coisas. O peito, o cansaço do ser e a alma, a alma liberta do pó: pergunte, pergunte ao pó, o pó no vento lá dentro de cada um, lá dentro o pó, e a poeira espalhada, lá fora e lá dentro. Ao pó, pergunte ao pó, a própria voz de cada um!

Depois de tantas sensações avolumadas sobre outras, virou a página do livro e, por fim, deu início ao primeiro capítulo. Ele curioso em saber o que se pergunta ao pó.

- O que se pergunta ao pó?