Um dia, num ímpeto, acreditando que escreveria um romance naquela sequência de dias, escrevi nada mais que 12 páginas. Foi tudo, em quantos dias não me lembro mais. Não muitos, acredito, devido ao impulso daquele momento e a interrompida certeza de que sim, eu escreveria naquela época. Mais de cinco anos se passaram, e o arquivo do possível romance ficou rodando do velho ao novo computador, sendo renovado, adiado, na expectativa de que um dia ele aconteceria.
Pois bem. Era Janeiro de 2010 amanheci pensado naquela história, naqueles personagens, numa paisagem já descrita logo no início do que eu já chamava de romance. Senti novamente o ímpeto, a atracão, o desejo de retornar ao texto, prosseguir, cavar palavras, garimpar frases, cenários, instantes, cenas que completariam o que já havia um início. Lá estava o início de uma história, alguns detalhes que eu já não me lembrava com exatidão, embora guardados.
Ao reler aquelas páginas, logo percebi mudanças necessárias. Uma inevitável reescrita. Aquela coisa que o cansaço se mistura ao prazer. Rever um texto, reler, trabalhar melhores construções pode ser realmente bem cansativo, essa parte essencial a qualquer escrita. É a busca pelo que acreditamos ser o melhor, o mais próximo do que podemos chamar, talvez, de perfeição. Enquanto relia… foi mais de uma semana numa releitura inquieta, até que precisei afirmar, ou insinuar, para mim mesmo, que já estava bom, e que eu deveria dar continuidade a escrita. Afinal, alimentar a correção pode ser demais exaustivo, e o texto é agradavelmente vaidoso, ele quer o melhor para ele mesmo. Entretanto, chega a hora de parar. E ai, é o senso crítico que deve estar atento para analisar a qualidade do texto, se ele atingiu o seu objetivo, ou se são apenas palavras imaturas, um texto que não soube perceber a si mesmo.
(O texto precisa ser vaidoso, por mais simples que seja, ele precisa ser vaidoso, sem ser arrogante.)
Mas, retornando ao romance, daquelas doze páginas conclui o primeiro parágrafo, depois de mais algumas páginas escritas. Depois, arranquei mais um pouco de fôlego ao meu redor e dentro de mim mesmo, o óbvio, e conclui o segundo capítulo. E há três dias atrás fiquei aqui parado em busca do início do terceiro capítulo, o destino da história de cada personagem. Algumas coisas já arrumadas para o prosseguimento do romance, e outras coisas embaralhadas. Bem embaralhadas. Um início que não era início, e talvez até fosse, mas agora, já apagado. É assim mesmo. É assim que surge. Ontem consegui dois parágrafos, e hoje é um novo dia.
Como decidi acreditar que terei tempo suficiente para escrever a tese, e há uma bibliografia extensa, decidi fazer um trabalho paralelo, pois escrever é algo que me atrai com profundidade, e fica em mim como um grude. É isso. Tomara mesmo que até o final do ano eu consiga concluir a escrita do romance, de título ainda provisório, “Antes que os morangos apodreçam”.
Caro Mestre Ismar,
ResponderExcluirA palavra é sua! Não há como evitar: Seu talento com o acréscimo de sua sensibilidade quase em extinção, são motivos demais para que os romances erguam-se e, parcialmente, lhe (nos) dê algum ligueiro momento dos inquietamentos do mundo.
Não pare!
L. Felipe
Amigo, esse romance vai ser um sucesso!!! Não tenho dúvidas!!! Sua escrita é única, Ismar!!!
ResponderExcluirBjs antes que os morangos aprodeçam...
Cláudia.
Ismar,
ResponderExcluirLi primeiro o outro escrito seu sobre os capítulos que havia terminado, fiz um comentário sobre ler o romance inacabado e agora ao ler esse outro, imaginei que paranóia seria ficar aguardando 5 anos à espera do próximo capítulo de seu livro, vc é realmente muito inusitado! Jacson Costa Veiga