Ontem, sexta-feira - agora madrugada de sábado - conclui a escrita do Capítulo 7 do romance, depois de uma tensa possibilidade de ter perdido tudo o que dele já havia construído. Ao contrário do capítulo anterior, este foi num tempo mais breve, numa inquietação menos acelerada e menos angustiante. A angústia maior veio, mas de uma outra maneira, quando o capítulo chegava ao fim, início da página dezenove e, de repente, um impasse. Ou isto ou aquilo, ou por aqui ou por ali, reflexões a respeito dos acontecimentos, das palavras e dos diálogos em determinados instantes.
Foi ai que decidi parar um pouco e fazer a minha caminhada. Durante o percurso, de aproximadamente uma hora, os pensamentos se sossegavam o quanto possível e eu mais seguro de que deveria deixar as coisas fluírem em seus limites possíveis e pulassem para a tela. Entretanto, ao retornar, o que encontrei foi um nada diante dela, um vazio, a tela escura, a bateria arriada, e nada das cenas do presente capítulo em meio a tanto espaço disponível em 6 gigas. Uma inquieta tentativa de ligar o computador, e na tela apenas um tal de aviso de recuperação de documentos, tentativas em vão, uma sensação de nada, e a certeza de que não recuperaria as mesmas imagens se tivesse que reconstruí-las. Já era madrugada, e fui dormir com a certeza de que sim e talvez igualmente a de que não.
Às 5:30 da manhã acordei e foi o primeiro pensamento: perdi todo o capítulo! Reescrever? Nunca mais o mesmo, ainda que seja melhor a nova escrita, nunca mais a mesma coisa, nunca mais as mesmas palavras, e nem os significados de antes, nem os sentidos, nem o ritmo, nem, nem, nem.
A saída chegou por um tal modo de segurança, eu bem leigo em computador, e, pelo menos eu, acredito que a minha habilidade bem maior é escrever. Depois, já não era mais 5:30 da manhã, mas quase meio-dia. Foi quando o alívio de que ali escondido em algum lugar, apenas via Modo de Segurança, estava todo o texto, todas as páginas, esta coisa incrível da memória. Então repeti mais uma vez para mim mesmo: é preciso ter o backup.
Logo após, retornei aos pensamentos ocorridos durante a minha caminhada, alguns pensamentos que já nem eram aqueles por completo, eram aqueles e outras coisas diferentes, então, escrevi mais duas páginas e ponto final. Agora, uma primeira revisão do capítulo, uma aproximação para um maior reconhecimento depois de talvez pronto, e talvez ainda não. Hora para um outro contato com a criação, se primeiro a escrita, depois a leitura, envolvimentos semelhantes e tão diferentes.
Depois o comboio, direção Esmoriz, uma leitura durante o percurso e mais uma vez P. Lejeune: “ Não consigo mais escrever sem corrigir. […]. Tanto trabalho para chegar a quê? A um texto límpido, certamente, mais simplório. As correções não acrescentam nada, apenas enxugam, decantam, um primeiro jorro profuso.”
"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
É uma atividade para poucos. Penso que é essa inquietação uma característica de quem percebe o que é escrever. Pelo jeito, vai seguindo pelo melhor caminho aê!
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