A taça de vinho já quase esvaziada... Esvaziando-se a taça de vinho, mas não os pensamentos. Nunca os pensamentos esvaziados sobre a mesa cheia de imagens e pensamentos que recordam as horas. As horas. As horas que preenchem a vida espalhada pelos horizontes tão amplos e tão impregnados de imagens avulsas, soltas, espalhadas sobre a mesa e sobre o interior de si mesmo, latejando, o interior, pulsando, embriagado pelo vinho que não embriaga tanto assim, mas que intensifica as palavras agora se derramando do alto da mesa e se espalhando pelo chão. Ali, uma felicidade de uma hora e outra e uma inquietação de uma hora e outra. Os dias e as horas se misturando sem mais a certeza de quando uma coisa e de quando outra. Tudo se misturando, o equilíbrio do tempo que pende uma hora para lá e outra hora para cá. Às vezes nem são as horas exatamente, mas os minutos. Eles tão imprevisíveis, tudo imprevisível, e do chão umedecido pelo vinho brota novamente um sentimento que se torna mais leve - nem tão leve todos os sentimentos - e se torna mais apaziguado, marcados pela dormência do vinho: a felicidade abastecida quando a última gota do vinho enfeita a borda cristalina da taça que nem é de cristal, mas que parece tanto como tantas coisas são, como se fossem.
"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
sexta-feira, 1 de abril de 2011
...mas são como se fossem
A taça de vinho já quase esvaziada... Esvaziando-se a taça de vinho, mas não os pensamentos. Nunca os pensamentos esvaziados sobre a mesa cheia de imagens e pensamentos que recordam as horas. As horas. As horas que preenchem a vida espalhada pelos horizontes tão amplos e tão impregnados de imagens avulsas, soltas, espalhadas sobre a mesa e sobre o interior de si mesmo, latejando, o interior, pulsando, embriagado pelo vinho que não embriaga tanto assim, mas que intensifica as palavras agora se derramando do alto da mesa e se espalhando pelo chão. Ali, uma felicidade de uma hora e outra e uma inquietação de uma hora e outra. Os dias e as horas se misturando sem mais a certeza de quando uma coisa e de quando outra. Tudo se misturando, o equilíbrio do tempo que pende uma hora para lá e outra hora para cá. Às vezes nem são as horas exatamente, mas os minutos. Eles tão imprevisíveis, tudo imprevisível, e do chão umedecido pelo vinho brota novamente um sentimento que se torna mais leve - nem tão leve todos os sentimentos - e se torna mais apaziguado, marcados pela dormência do vinho: a felicidade abastecida quando a última gota do vinho enfeita a borda cristalina da taça que nem é de cristal, mas que parece tanto como tantas coisas são, como se fossem.
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(Permita-me uma aproximação, um comentário)
ResponderExcluirO texto, o Texto que (nos) escreve é infinito e labirintado, como se aos deuses restasse o descanso de contemplar,de ver a criação mesma que não sendo, "é como se fosse" e como se fosse é.
O Texto é interminável, como a hora em que (nos) debruçamos à varanda de nós e contemplamos o acto, o texto... a fugir da hora, a hora a ser sem-tempo em nós e no mundo... a ficção mais real que nos permitimos criar,na alquimia de um "athanor" e labor...
"As horas que preenchem a vida espalhada pelos horizontes tão amplos e tão impregnados de imagens avulsas, soltas, espalhadas sobre a mesa e sobre um interior que é tudo e que é nada." Os objectos que, surpresos, olham, "como se fosse"... "como se fosse"... E tudo é Real.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSaudadesdofuturo,
ResponderExcluirUm contentamente ter retornos tão positivos ao que escrevemos. Do seu comentário desfruto do seu conhecimento da palavra, e muito mais das entrelinhas, lá onde pode estar o que mais pretendemos dizer e que às vezes temos a sensação de não ter conseguido exatamente. Coisa das inquietações da escrita.
É a essa inquietação que retornamos sempre, como quem olha a taça de um cristal que se sabe espelho, de trespasse em nós na palavra de saudação e interrogação constantes ao que do verbo nos escorre na garganta de um gole imprevisível e, no mesmo lance, fascinate, como o é esse mar e essa maré, latejando na sua presença ausente...
ResponderExcluirGostei do que li.
Saudação.
A sua escrita sempre me surpreende, sempre deixa o leitor em estado de êxtase, um efeito similar ao do vinho, com gosto de quero mais.
ResponderExcluirBjs mil!!!