"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Mas nem sempre previsível
Não apenas um cansaço, mas uma inquietação.
“Que entendes se indago: felicidade nostálgica e previsível?”
Pensou em adiar, apenas no ímpeto: “hoje não, só amanhã”, e se sentiu navegando num poema de Pessoa. Mas logo entendeu que deveria ir sim (mesmo sem saber ao certo o que responder a respeito da felicidade nostálgica e previsível). Retornaria, ao Tejo e ao lugar diante dele, o rio, o começo, o início daquilo ainda sem nome determinado. “Daquilo” não, soaria como coisa qualquer, e nunca, nunca coisa qualquer! E foi nesse impasse que o tempo tornou-se mais uma vez inadiável: “O tempo das coisas é às vezes é inadiável”, pensou, querendo também entender a sua lógica. O tempo, o espaço, a imagem azul movimentando-se tão calmamente, o azul a combinar tão bem com o quadro que enfeitava não apenas a parede.
Felicidade nostálgica e previsível. Que felicidade é essa? Uma imagem que pulava de um lugar para outro e de uma palavra para outra e de um sentimento para outro e pulava... Uma busca de um sentido capaz de explicar o transitar entre a felicidade e a nostalgia. Olhou o quadro na parede, olhou a janela pintada no quadro, olhou para o mundo lá fora, e mergulhou dentro de si mesmo, contemplando a singularidade daquele instante que se repetia.
Ali (Ali? Ali, onde, se tudo ao mesmo tempo, ao mesmo, ao mesmo...), encontrou a resposta, numa sonoridade calma e num lamento suave, num prazer e numa dorzinha silenciosos, e vislumbrou a resposta que procurava: estampada nas águas do rio, tão expressivo rio, exposta no quadro na parede, pulsando ao seu lado e dentro de si mesmo. Era uma felicidade nostálgica, nem sempre previsível.
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O rio que guardava muitas das suas lágrimas...uma felicidade prometida e adiada...algo aconteceria...algo, vindo daquela parede, daquela dorzinha...daquela vontade perdida entre os papéis...
ResponderExcluirA recepção do texto pode ser plural... O lugar do leitor, o lugar da escrita, o lugar do texto. Uma felicidade, embora nostálgica, a nostalgia que pode ser, às vez, agradável e doce. Ela, numa linha tênue.
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