"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
sábado, 15 de março de 2014
O tempo e o cristal
O tempo é um vaso de cristal
disse o filósofo ao outro,
Um vaso de cristal, repetiu
ao que o outro respondeu:
O cristal não resiste ao tempo
mas o tempo ao cristal.
portanto, o tempo pode ser vaso
mas não de cristal.
O tempo é um vaso de cristal,
persistiu o primeiro filósofo:
É tão sensível que passa, evapora, a todo instante.
Um terceiro filósofo resolveu então se manifestar:
O cristal não passa, ele dura.
Até os seus fragmentos resistem ao tempo
mas o tempo não, ele não permanece.
Ele se vai a todo instante, se torna passado.
Até mesmo o presente e o futuro passam
e o tempo já não é, pois logo se faz outro.
Entreolharam-se, os três filósofos,
enquanto o tempo passava
e o cristal resistia a ele,
ainda que em fragmentos.
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