"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
quarta-feira, 23 de abril de 2014
E algumas vezes era de pano
Quem olhava para ela nem desconfiava de que detrás de seus sorrisos largos havia outra, ela disfarçada de boneca de plástico, moldada para sorrir quando dispositivos são acionados por meio de baterias alcalinas. Tudo tão artificial, ela sabia, e inquietava-se: ela ruborizada, receosa de que desconfiassem que algumas vezes ela era boneca feita de pano e que o expressivo vermelho em seus lábios era linha de tecelã.
Ela sentia um temor imenso de que, inesperadamente, a bateria falhasse no meio de um sorriso escancarado em qualquer instante de contentamento. Tanto temor! E ela sentia um pavor imenso ao sentir que a linha de carretel acabasse. Logo o vermelho de seu sorriso abandonado no meio da felicidade!
Ela, a boneca de plástico e outras vezes de pano sentia alegria o dia inteiro! E tristeza apenas quando desconfiava de que o seu sorriso ininterrupto pudesse deixar de ornamentar as vitrines mais simples e as mais sofisticadas da cidade.
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Adorei!!! Mas depois de ler fiquei com muito receio de sorrir escancaradamente. Olhei no espelho e vi, vi mesmo, um pedacinho de linha...era vermelho...o rosto e a linha...
ResponderExcluirBjs,
Clara.