"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
sábado, 14 de janeiro de 2012
Espelhos imaginários e o outro espelho
Releu nas paisagens acinzentadas do tempo os movimentos do prazer de luzes incandescentes
e agora é a súplica tão tardia se não for o milagre.
Lá no nevoeiro do tempo estavam os porta-retratos, expostos ao lado de outros, com fotografias no subterrâneo das recordações.
Um cheiro ácido exalava não apenas do frasco do seu perfume, que já não parecia ser o mesmo,
por mais que o aroma extraído da pura essência, era agora um cheiro vindo de algum sótão e que se misturava ao outro,
o do frasco de nova fragrância, mas que nunca disfarçava a acidez corrosiva do velho perfume.
O seu olhar já não conseguia fingir, desde quando percebera que o outro tempo havia voado para um destino imprevisível em si mesmo, mas ali, perceptível pelo seu próprio olhar interior.
Aquela certeza mergulhava em seus devaneios
e eram sentimentos visíveis nos imensos e belos espelhos das vitrines por onde passava e outros espelhos
estilhaçados e espalhados nas vitrines de si mesmo,
tantos espelhos, enquanto as fragrâncias exalam perdendo o seu aroma e se transformam em frascos vazios.
A fragrância resistente, dentro do frasco vazio.
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Dentro dos frascos vazios havia ainda resquícios do cheiro das palavras. Todas agora no papel, uma folha após a outra, um outro perfume, a memória da escrita. Do que foi pensado e querido durante tanto tempo, agora realizado. Ao lado do frasco muitas canetas, todas utilizadas.
ResponderExcluirCamile Claudel
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirO seu comentário abre o espaço de interpretações possíveis ao universo da escrita e da leitura. O mundo que é de um e que, em algum instante,pode ser também do outro. Haveria alguma unilateralidade na escrita? Mesmo quando se escreve a partir de uma única imagem, pode estar ali uma pluralidade gigantesca de sentidos. Esse universo metafórico! Ao observar, escrevi... Entretanto, ao se escrever um texto, ele já pertence a quem o lê. Os frascos que não foram pensados enquanto "escrita" em si, podem tão bem representa-las. As canetas deslizantes...
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