"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Simbologia imaginária
Abriu a caixa que lhe fora entregue no encontro na avenida e viu que lá dentro não havia tanto quanto a bela embalagem aparentava. Logo pensou na essência das coisas, na simbologia imaginária dos objetos, na simplicidade que pode morar detrás da suntuosidade, na velha imagem do falso brilhante: lá dentro dele tantos resíduos, e a pedra que tanto brilhava nada mais é que o efêmero de algum instante encantado.
Sustentou a caixa em suas mãos, uma felicidade leve e agradável, enquanto retirava de seu interior algo tão simples, bem simplezinho. Entretanto, ao torná-lo visível aos seus olhos, a felicidade leve e agradável começou a ser desconstruída. Um querer entender a grandeza da embalagem em seu amarelo quase dourado, o laço perfeito, uma embalagem ostensiva, e que tanto se contrastava com o simplezinho demais.
De repente, analogias sobre a vida e sobre as coisas, sobre tudo e sobre os fragmentos que se juntavam um ao outro, enquanto pensava no sentido daquele instante: tão simplezinho e tão sem sentido a aparência e a essência, a embalagem e o que nela havia.
E, de repente, construiu outro instante, daqueles que abrigam apenas suposições: abriu a caixa que lhe fora entregue no percurso pela avenida e viu que lá dentro havia muito mais do que a bem simples e pequena embalagem revelava. Logo, pensou novamente na essência das coisas, na simbologia imaginária dos objetos, na grandeza que pode estar detrás da simplicidade, na imagem misteriosa do brilhante que brilha, brilha, brilha, às vezes tão falso, às vezes tão verdadeiro, às vezes apenas fantasia. E o vento.
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Um texto aparentemente tão simples, mas muito rebuscado em sua profundidade. É a questão da aparência e essência das quais o texto trata de maneira tão singular.
ResponderExcluirÉ surpreendente como a partir de uma simples ocorrência - o abrir de uma caixa - é possível desdobrar todo um mundo. Parabéns!
ResponderExcluirNuno
Dentro da caixa havia uma fotografia apagada de algumas memórias...talvez de elefante. O texto está lindo, Ismar!
Bjs,
Lola.
E o vento...que sopra tudo, que varre, que mostra, que denuncia o que esta' escondido, exatamente como o abrir da caixa. La' dentro e' que importa. Lindo texto.
ResponderExcluirVaninha.