"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
A ponte, apesar do rio - III
Pensou em dizer que o amanhã é um dia que não existe, e citar o texto de Provérbios que afirma que não devemos presumir do dia de amanhã, pois não sabemos o que produzirá o dia. Mas não disse nada. Não queria desviar aquele instante para a física, a metafísica, os diversos e o único sentido de eterno, não queria discutir o tempo. O tempo era aquele, o agora, o presente ininterrupto.
Ficou em silêncio, saboreando as palavras que acabara de ouvir. Havia ali uma singeleza sim, havia ali a força das imagens desenhadas pelas palavras. As palavras desenham. Nunca havia pensado nisso, e se debruçou sobre tal possibilidade, enquanto olhava a ponte e o rio, como lhe havia sido sugerido. Não era apenas um olhar, era um estado de contemplação ao imaginar os passos que percorreram sobre ela em sua direção, e o rio brilhando, desenhando as diversas estrelas que bailavam sobre as suas águas.
Não precisava dizer mais nada naquele dia. Nem dizer e nem ouvir. O silêncio era a expressão do prazer que transcendia. Era o gozo pulsando em cada olhar. A noite inteira pulsando no silêncio derramado na margem do rio, agora mais reluzente sob a ponte tão permissiva.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário