"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
O envelope, a urna e o castiçal
Lá dentro havia um labirinto cheio de palavras guardadas dentro de envelopes espalhados por todos os caminhos, quase todos sem saída. Dentro de cada envelope havia uma palavra, apenas uma, muitas palavras iguais, e poucas diferentes, únicas.
As paredes eram bem alvas, o chão era alvo, bem alvo, as vestes das pessoas eram alvas, e outras não. Os envelopes, de tão alvos que eram, pareciam desaparecidos no chão e nas paredes extensas e altas, os envelopes confundidos com o chão e as paredes límpidas, e quase ninguém os encontrava.
Todas as pessoas se espalhavam no imenso labirinto, e um não se deparava com o outro. Eram todos avistados ao longe e desaparecidos em seguida, na entrada para um novo caminho que levava a outro caminho ou a nenhum. Era esta a maior sensação: a de caminho nenhum.
No fim da jornada, que havia durado anos dentro de apenas alguns dias, algumas poucas pessoas começaram a encontrar a saída: um imenso pátio branco, as árvores brancas, as flores brancas, e em seus envelopes todas as palavras eram diferentes uma da outra, únicas. E, embora diferentes, havia uma grande sintonia entre elas.
Nunca alguém havia visto aquelas palavras, todas depositadas numa pequena, bem pequena urna dourada sobre uma imensa mesa de marfim. A urna, ornamentada de pedras reluzentes, era estranhamente sem porta.
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