"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Quase pluma, e jorrando
Ontem ela saboreou uma garrafa de vinho quando a sua pretensão era apenas uma taça, a pretensão de ser apenas uma quando desconfiava que a taça seguinte estava a um gole de proximidade de seu desejo. Dois goles, todos os goles da taça saboreados enquanto a vida se fazia pluma.
A vida era quase pluma quando, levemente ruborizada, ela desejou que a pluma flutuasse ao leve vento da noite. E então viu jorrar sobre a taça o vinho que lhe dava gozo inexplicável no corpo e dentro de algum lugar que ela não conseguia expressar qual era. Gole após gole a pluma voava e ela também flutuava com as asas que cresciam sem pressa alguma.
O voo leve. Ela queria um voo leve enquanto contemplava a pluma leve voando ao seu redor, ela reservando o impulso para a taça seguinte. Quase uma hora depois, a taça seguinte. E a vida que era pluma bailava diante do seu olhar, até que o instante presente era um novo gole escorregando dentro dela, e o gozo.
A vida era quase pluma quando ela segurou a terceira taça de cristal servida, novamente o prazer jorrando dentro dela.
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Que escrita linda!
ResponderExcluirFiquei tão inspirada que me deu vontade de tomar um, duas, três garrafas de vinho!
Quero a vida assim jorrando leve como uma pluma.
Bjs,
Clara.