"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Cais desordenado
Amanhã partirei novamente, com a certeza de que é sempre hora de partir e é sempre hora de chegar. Mais uma viagem de volta, a volta que pode ser para partir ou para chegar. Eu parto de um cais desordenado em suas águas ora inquietas e ora tão suavizadas, eu parto mergulhado em imensas imagens absorvidas em mim.
Dentro de mim o calmo cheiro que não se apaga com qualquer vento, ainda que vendaval; comigo, as lembranças de horas inesquecíveis e mais um contentamento do outro lado do rio! Longo, tão longo o rio, e o cais. Não, não, ó tempo! Não arrancarás de mim o doce sabor dos instantes guardados em fotografias eternizadas não apenas em meu peito, e bem sei que tu, ó tempo, não permitirás que fotografias outras partam de mim, escorregadias em seus limos tão viscosos com o tempo.
Amanhã partirei novamente e ouço a Abertura de Tannhäuser, tão intensa quanto eu neste momento. Nela, eu mergulho como se fosse o rio! A cidade encantadora e cheia de imagens guardadas em mim à margem do rio, o rio, o rio e outras imagens repousadas sobre a cama, o final do vinho ainda marcante no paladar, e o cheiro do perfume novamente a preencher recordações, algumas intraduzíveis.
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Foi antes de partir, foi num café perto do rio, não qualquer rio, aquele, especial, único. Ele chegou apressado, tirou do bolso um papel e começou a ler...Amanhã partirei novamente...não era ficção, ele partiu e ela também, outro cais, outras paisagens, mas a certeza do sabor do café...um café que tinha nos grãos a palavra amizade tatuada. Bjs, meu querido, Clara!
ResponderExcluirClara, Clara!! Foi mesmo! É mesmo! E o rio...
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