quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

"É o inverno, Leon" - Romance

Capa: Nana Andrade
Revisão: Maria Cristina Mota
Edição: Subterrânea Colectivo

Prefácio: Elis Crokidakis*

Em busca do verão.

Com uma escrita frenética como se fosse um filme de ação, Leon é construído. Um personagem que não vem direto com uma descrição minuciosa de seu universo, ao contrário, ele vem aos poucos, em cada capítulo, sendo inventado. No entanto, há elementos que são presentes em todo o texto, pois em todos os capítulos vemos a angústia de Leon, sua fragmentação, seu devaneio.

Camus, em “O estrangeiro”, coloca-nos diante de um homem que parece não ter sentimentos, para quem tanto faz como tanto fez, ao contrário é Leon, este tem excesso de sentimentos, de sensações, de saberes que o confundem e não o deixam com a mente clara. Nem um nem outro são o ideal. Talvez o caminho do meio nos soasse como algo mais tranquilo, mas como no atual estágio em que se encontra a humanidade isso é cada vez mais difícil. Acordamos e tudo já aconteceu enquanto dormimos, os meios de comunicação que nos aproximam também nos distanciam e a cada momento são maiores os índices de extrema solidão, mesmo que sejamos os mais conectados. Talvez seja isso que I. Luiz Andrade nos queira dizer. E diz por sua forma mais intensa, mais cortante, que por vezes se faz necessário parar de ler para não sucumbir às sensações.

Quem é Leon? Quem é Nara? Quem é Laura? Quem é Lílian? Quem somos todos nós na loucura do viver? Talvez seja essa a grande pergunta do livro. Todavia ela é apressada, não dá trégua ao leitor, que ao ler fica sufocado. A velocidade das palavras em parágrafos curtos e as descrições dos espaços marcados por meios de transporte fazem o leitor sentir que precisa se deslocar, sair da mesmice para não se consumir nas dúvidas, nos desencontros da vida, ao mesmo tempo em que busca o fio de Ariadne no labirinto de Creta. A memória é o grande viés a percorrer a narrativa, ela vai e volta. Leon não entende como isso acontece, mas é assim que se dá. Talvez a memória seja, então, o grande labirinto que, na narrativa, necessita de um condutor para levar o fio.

Mas e o enredo, a história, esta é menos importante que a forma de narrar. Posso ousar dizer que a escrita é também labiríntica e tudo se convergirá a um só enredo? Não creio. Cada leitor fará uma história diferente, na magia da arte tudo pode acontecer. “Viver ultrapassa qualquer entendimento”, diria Clarice Lispector, mas que vida é essa? Leon está em busca de si mesmo e vê em todos as explicações para si mesmo. É o inverno, sempre inverno, diz a mãe, diz Nara, diz Laura. Todo mundo diz, mas Leon não sabe sobre o seu sentir, ou seja, de que ordem são os seus sentimentos, e também não sabe o que sente. Mas sabe que o inverno está dentro dele em certos momentos de sua existência.

A necessidade de entender a si mesmo e aos seus sentimentos truncados fazem ainda de Leon o próprio homem pós-moderno, solto no mundo, fragmentado e sem saber onde ir, aí ele se volta para o berço. No texto, é clara a presença da família, aquela que ele tem certeza que estará sempre ali para acolhê-lo. A mãe, a que mais o entende, a referência maior, o pai, o amor e o respeito, e os demais como um complemento para a identificação do que seria o seu verão. Ou seja, Leon está aí o tempo todo, nas ruas, nas salas de aula, nos transportes, em qualquer lugar. Ele representa, por fim, essa necessidade que todo ser humano tem de se sentir acolhido, amado para poder ser e não apenas existir.

Villefrance de Rouergue, em setembro de 2019.

*Doutora em Ciência da Literatura, com pós-doutorado em Literatura Brasileira. Professora de Literatura e Cinema da FACHA

Livro disponível nas versões física e e-book: www.amazon.com, www.amazon.com.br, e demais lojas Amazon.

https://subterraneacolectivo.wixsite.com/apresentacao/i-luiz-andrade

https://subterraneacolectivo.wixsite.com/apresentacao

Nenhum comentário:

Postar um comentário