terça-feira, 25 de abril de 2023

"O silêncio e a bagagem" - Contos (Nova Edição 2020, Revista)

Capa: Nana Andrade - andrade.nanaf@gmail.com

Apresentação

Este livro – O silêncio e a bagagem - representa um espaço literário que convida o leitor para encontrar sentido e significado em seu próprio silêncio e em sua própria bagagem. Cada história apresenta uma riqueza de personagens e de detalhes do quotidiano, cada uma é única, porém há um fio condutor que parece unir todas as histórias: a voz da bagagem do mundo subjetivo que mundo exterior com seu movimento frenético e incessante tenta calar. I. Luiz Andrade revela a força brutal do mundo concreto que deseja de alguma forma suprimir os anseios mais intensos e relevantes do ser humano. A realidade com seus infinitos e por vezes insignificantes detalhes que insistem em desviar o olhar do próprio sujeito, da sua importante demanda interna para as resoluções práticas do dia a dia. O silêncio, tão marcante em todas as narrativas no livro, revela que o calar é também uma forma de viver e resistir aos inúmeros apelos da vida quotidiana. A bagagem que habita o mundo interior se recusa a aceitar todas as premissas que a realidade exige e o silêncio é momento de soberania do sujeito, esse feixe de emoções quase totalmente subjugado aos acontecimentos da vida.

I.Luiz Andrade trabalha em sua escrita de forma única justamente o quase, aquilo que quase é dito, que quase é feito, que fervilha nos pensamentos dos seus personagens e toca assim a forma de ver e estar no mundo do leitor.

A vida concreta dos personagens, o dia a dia, os afazeres tentam calar a força torrencial do mundo interno. É justamente a sutileza e o mistério que habitam o mundo subjetivo dos personagens que é explorado pelo autor do livro, que percorre com maestria os labirintos interiores que estruturam os sujeitos fictícios que na verdade representam os sujeitos reais que somos todos nós, que também experimentamos diariamente essa luta entre a voz ininterrupta da realidade em contraste com a importante voz interior. É justamente no momento de silencio, de pausa, de um certo vazio, que os personagens percebem que há algo para além do concreto, algo que estrutura e preenche a existência humana. Algo que dá sentido e dignifica a caminhada de cada um com o seu silêncio e a sua bagagem.

I. Luiz Andrade mostra toda a fragilidade que é constituinte do ser humano: o medo, o tédio, o desejo, a tristeza, a competição. As falhas internas são expostas justamente nos momentos de silencio, nas pausas que a vida involuntariamente proporciona deixando as personagens e o ser humano à deriva, mostrando que todas as redes de segurança são construtos artificiais que nos ajudam a lidar com o grande caos que é existir.

Esse livro é um convite para que o leitor conheça melhor todos os recantos da sua subjetividade: aquilo que nos alegra e que nos cala, aquilo que nos fortalece e aquilo que nos amedronta, aquilo que nos faz suspirar e aquilo que nos fazer ter receios.

As belas narrativas proporcionam um mergulho intenso na interioridade humana, mostrando toda a sua potência e todas as suas fragilidades, a promissora possibilidade de completude e a marca da falta, do vazio, daquilo que é impossível nomear e que mora no mais profundo de todo ser humano.

Trata-se da segunda edição de O silêncio e a bagagem. A primeira publicação ocorreu em 2008. Após mais de uma década, o autor decidiu presentear o leitor com uma nova edição, tão instigante como a primeira, pronta para transformar a vida do leitor, pois uma excelente leitura como essa que o livro nos proporciona, torna o nosso mundo mais vasto, mais amplo, as perspetivas do nosso olhar ganham novas cores e nuances. A realidade interna e externa ganham outras e incríveis proporções a partir da leitura das narrativas presentes neste livro.

Cláudia Souza.

Lisboa, Outono de 2020.

Instagram: claudiafernandopessoa

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