domingo, 26 de janeiro de 2020

A ponte, apesar do rio


Capa: Nana Andrade.

PREFÁCIO

Sinuoso, inquietante e fugidio, tal qual o fluxo caldaloso do rio, parecem-nos qualificativos apropriados ao livro de narrativas “A ponte, apesar do rio”. São contos, pequenas narrativas, poemas e outros escritos que, numa aparente desconexão, se entretecem com os fios luminosos de genialidade e rebordam em palavras, metáforas e imagens inusitadas a unicidade coesiva. Eis aí um traço marcante do jovem escritor I. Luiz Andrade, uma tendência à experimentação de uma escrita literária sempre carregada da emoção de criar, de inventar com palavras-pontes caminhos que ultrapassem os limites margeados, tão repisados pelo gregarismo das rotas transitáveis e, portanto, indesejáveis. Pois que a ponte, ao tempo em que fragmenta o rio, também o interliga, aproximando suas margens. Interessante notar que a forma como autor constrói as narrativas, guardando uma aparente independência entre cenas narradas, a priori lidas como fragmentos, nos leva a perceber, numa leitura mais atenta, que em todo o tempo estamos diante de uma unicidade estabelecida quer seja pela ideia de complementariedade entre os títulos dos textos, ou pela incidência temática que percorre a maioria deles, ou ainda pela repetição de elementos, categorias ou conceitos-chave que aparecem reiteradas vezes ou mesmo na tentativa de interlocução com o leitor, por parte do narrador, conforme lemos no último parágrafo do primeiro conto “A ponte, apesar do rio I”: “(...) Não vê que a ponte surge imponente e simples sobre o rio e assim constrói uma unicidade?”(...). Esta imagem é retomada no conto seguinte:” (...) A ponte permanecia esbelta e imponente(...)”. É a língua em sua função poética criando pontes que possibilitam o trânsito de sentidos e aproximações polissêmicas. Pois que a língua é ponte que nos liga às diversidades. Que nos transporta para universos diversos, que nos permite decifrar o enigma da esfinge e não sermos devorados. E é esta destreza com a língua portuguesa, especialidade de I. Luiz Andrade, ele que é Doutor em Literatura de Língua Portuguesa e professor, e cronista e poeta e contista, é esta familiaridade com a Língua-ponte que o inspira escrever que “(...) Não preciso repetir que foi a ponte que me trouxe até aqui novamente. Não apenas a ponte sobre o rio, interligando as cidades, mas a ponte entre os rios que somos nós. Há outras imagens sobre os rios... Nós somos rios. Nós somos rios e sobre pontes percorrermos de um lado para outro de nós mesmos. Que formidável sintonia com o pensamento Nietzscheneano I. Luiz Andrade expressa em sua obra, já que este pensador alemão compara o homem a uma ponte, que não é finitude, mas transição e queda e nisto reside a sua grandeza. O livro “A ponte, apesar do rio” é leitura deliciosa e atual. Provoca reflexões existenciais e nos leva a pensar sobre nós mesmos e mesmas e sobre os paradoxos do nosso tempo. É ponte que, apesar do rio, este nascente e deságue, nos transporta para o campo aberto de leituras possíveis.

Boa leitura!

Professora Dra. Marluce Freitas de Santana, UNEB

Livro disponível nas versões ebook e física. www.amazon.com.br, www.amazon.com e demais lojas.

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