"[...] a mala se esvaziando, a mala se esvaziando, veementemente se esvaziando, sem nem mesmo alguma peça de roupa ter sido, pelo menos, dobrada e guardada dentro dela. A mala ainda vazia, completamente vazia, e já se esvaziando, se esvaziando, o fundo, o fundo da mala tão escuro de tamanha profundidade, e totalmente escancarado para o nada. Nada ali dentro da mala que seria tão pequena para o tanto a ser transportado, e o denso cheiro de vazio dentro da sua imensidão."
segunda-feira, 22 de julho de 2013
O quarto
Imprimiu no pensamento um quadro de Van Gogh
O quarto silencioso
A cama vazia
As cadeiras vazias
A porta fechada
Os quadros inclinados sobre a cama e sobre o piso tão gasto
A janela entreaberta
E o espelho a refletir paisagem sem movimento.
Tudo em silêncio, mas um silêncio em cores.
Tudo vazio, mas um vazio que não é o nada.
Algum paradoxo?
Por vezes, tudo parece expectativa
diante da janela apenas encostada.
domingo, 21 de julho de 2013
Apenas
Foi até a estante
Cheia de livros nunca lidos
Alguns apenas folheados
E livros lidos e relidos.
Tantas frases grifadas, anotações rabiscadas
Marcando instantes consagrados pelo tempo.
Queria ler um clássico!
Não.
Queria ler um contemporâneo!
Não.
Olhou o instante
Viu tantos títulos
E não se interessou por nenhum
Não naquele momento.
Pegou um papel
Um lápis
Uma caneta
Repousou a caneta
E com um grafite começou a transcrever uma poesia.
Erudita!
Não.
Contemporânea!
Não.
Queria mesmo era eternizar aquela sensação inexplicável.
Apenas isso.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
O vinho tão bem encorpado
Não importa a cidade:
ela acorda no meio da noite
Não importa a casa
O quarto
A cama
O lençol
O cobertor:
ela acorda no meio da noite.
Todos os dias ela acorda no meio da noite
e redesenha na memória os sonhos
os delírios...
os sonhos ou os delírios [ela nunca sabe ao certo]
e depois se movimenta sobre a cama
sem se importar em qual cidade
em qual casa
em qual quarto.
E na fronha amassada
o hálito do vinho tinto tão bem encorpado.
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Tempo fotografado
“São 4 horas da madrugada”
Afirmou,
Sem vontade de abrir os olhos
Abrir a janela
E perceber que eram 4h da tarde.
“São 4 horas da madrugada”
Persistiu,
Sem vontade de abrir a janela
Sem vontade de abrir a porta
Sem vontade de andar pelo corredor
Ir até a sala
Abrir a janela.
Todas as janelas fechadas.
Era novamente 4 horas da madrugada.
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